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O vento que faz brilhar nossas dores 

Jana Cândida Castro dos Santos 

Ana Vitória Freitas da Silva

 

As noites iluminadas vilaboenses revelam detalhes de suas igrejas, telhados e becos. Durante os meses pandêmicos, percorrer alguns desses espaços, imersos à paisagem noturna, se fez um respiro em meio ao isolamento social. A visita à Igreja de Santa Bárbara, em umas dessas noites, fez surgir poesia, acompanhada de sons, cheiros e sabores de taipas e telhas de barro. A fachada simples, porta de ombreiras e verga curva, paredes apoiadas em contrafortes, traz consigo pedaços da história e nos revela particípios do teu passado, lamúrias de outros nossos. Nesse adro, o vento que vai perambulando por entre as pedras, sai varrendo as poeiras escusas, faz cantar a madeira de outros tempos, e faz pilar o suor de peles e mãos retintas. Vento que faz brilhar as nossas dores.

A voz escurecida

Izadora Laner 

À noite em Goiás ressurge, em mim, histórias de vidas incompletas. A esquina que não virei, o caminho que não tracei, a ideia que não mudei. Vidas passadas que sussurram de cada pedra, rangem de cada madeira e farfalham de cada árvore suas lamúrias de outros tempos - acumuladas e esquecidas. É preciso reaver a história. 

Por trás das fachadas, perambulam almas acorrentadas a um passado de dores sangrentas. Ao tocar da lua e entardecer do dia, projetam suas vozes pelas frestas do barro rachado. Apiloado pela resistência que a memória imprime em cada detalhe, cada mato que nasce do chão. Raiz inquebrantável.

"O vento que faz brilhar nossas dores" me convidou a silenciar e ouvir; dar protagonismo às chagas das almas escravizadas, que ergueram cada igreja sem poder rezar, cada casa sem o direito à sua morada. Almas ainda aterrorizadas pela cruz do bandeirante, fincada em um chão que não lhe pertence. Pelas fendas do marco resoluto e indesejado, sangram as mãos, choram os vendados. Vozes emudecidas na luz do dia e fortalecidas pelos pesares das sombras.

Diante da porta fechada, as lascas da madeira e seus entalhes encobrem um mistério perceptível apenas aos olhos mais atentos. É preciso sentir a história que ressuscita na ausência de luz, ausência de explicação. Goiás à noite tem caminhos intuitivos, que levam ao centro da dor do existir. Na escuridão, padecem as existências passadas; vilaboenses colonizadas, em tudo se fazem presentes. Goyaz é vida distinta; em tudo que toca, simboliza.

O vento carregou os cantos da serra dourada na penumbra afora da Santa Bárbara. Aceitei o convite e ouvi, encantada. Quem sabe você também possa silenciar e dar ouvidos à magia captada.

O VENTO QUE FAZ BRILHAR NOSSAS DORES 

3'29''

Realização: Coletivo de Ações Poéticas Urbanas - CAPU

Direção: Jana Cândida Castro dos Santos

Produção: Jana Cândida Castro e Ana Vitória Freitas da Silva

Filmagens: Ana Vitória Freitas da Silva, Jana Cândida Castro dos Santos, Emilliano Alves de Freitas Nogueira e Rodrigo de Oliveira Costa

Edição: Rodrigo de Oliveira Costa

Texto: Jana Cândida Castro dos Santos

Narração: Jana Cândida Castro dos Santos

 

Local das Filmagens Igreja de Santa Bárbara 

Goiás/GO  - 2020

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